Monday, November 12, 2012

Com improviso pernambucano (AD Luna - Jornal do Commercio 11/11/2012)


ITÁLIA

Saxofonista leva influência pernambucana para o jazz europeu

Alípio Neto chegou a integrar a Santa Boêmia, banda recifense dos anos 1990


Seja no universo da cultura de raiz, da música pop, do rock, eletrônica, metal, Pernambuco não para de conceber e até exportar talentos da música. Na seara do jazz, um dos destaques dessa gestação de nomes relevantes é o saxofonista e compositor Alípio Carvalho Neto. Natural de Floresta, Sertão de Pernambuco, ele chegou a integrar a Santa Boêmia, banda recifense dos anos 1990, e hoje vem se destacando em palcos europeus. Mais especificamente na Itália, onde faz doutorado em musicologia na Universitá di Roma Tor Vergata.
Alípio Neto deixou o Estado em 1997, quando aceitou convite para estudar em Évora, cidade portuguesa localizada no Alentejo, caracterizada pela influência de diversas culturas como a celta-ibérica, a fenícia, grega, romana, árabe, hebraica, entre outras. “Agradava-me a ideia de viver num lugar que se poderia chamar de ‘sertão’ português, com uma cultura muito próxima da pernambucana e nordestina”, observa.

Na UFPE, Alípio fez mestrado em Teoria da Literatura. No próximo ano ele deve concluir o doutorado (PhD) em musicologia, em Roma. “A literatura e a música não são apenas complementares, são territórios oxímoros, sem fronteira, sem demarcação precisa, onde posso transitar sem passaporte. A poesia, a literatura, compõe-se como a música. São artes enérgicas e sinérgicas. Pretendo retomar, em breve, o artifício de escritor casado com a música”, adianta.




O jazz de Alípio Carvalho Neto é forte, por vezes angustiante, mas carregado de personalidade. Em composições como The pure experience e The flower é possível perceber a presença de elementos nordestinos. Mesmo tendo vivido por muito tempo em Brasília, onde complementou sua formação acadêmica e iniciou a carreira profissional de músico, o saxofonista afirma que suas raízes pernambucanas nunca deixaram de estar presente em sua identidade.
“As bandas de pífaro, os aboios, a objetividade árida do sertão, a dignidade moral da pobreza honesta da maior parte da gente, riquíssima eticamente, sempre existiram em mim, são a minha formação”, confirma. “No Recife interiorizei os frevos, os maracatus, a cultura de subúrbio, que na verdade e paradoxalmente estão em toda parte, não só na periferia, o que considero um modelo virtuoso de dinâmica social”.
O jazz nasceu rebelde e contestador em sua estética, mas foi absorvido e domesticado pela indústria cultural. Mas não totalmente. São pelos caminhos não diluídos pelo “sistema” que Alípio prefere andar. “Interessa-me o território entre composição e improvisação, entre forma e memória, não me interessa o jazz pequeno burguês e comercial que se encontra por toda parte. A política cultural que se pratica habitualmente em relação ao jazz e a música ‘culta-clássica’ é aquela que podemos pensar em relação aos maracatus sem o componente religioso: macumba para turista”, critica.

Mesmo com uma carreira estável, a existência de público interessado e muitos espaços de expressão não só da música, mas de outras artes, Alípio afirma querer tocar mais no Recife e, além disso, compartilhar suas experiências. “Sinto-me disponível e aguardo propostas, estou pronto!”.
No site www.alipiocneto.com, o internauta pode obter mais informações sobre o som do artista.


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